Dermatologista
HPA Magazine 16
Através deste procedimento é possível identificar e remover todo o tumor, preservando a pele sã em torno da lesão. A técnica consiste em retirar o cancro da pele, camada por camada e, examinar cada uma delas ao microscópio, até que se obtenha margem livre, ou seja, até à remoção completa do tumor (o nível de precisão e acerto pode chegar a 99%). Esta precisão é possível já que praticamente 100% das margens são analisadas pelo microscópio, durante a cirurgia. Após a obtenção da margem livre, é realizada a reconstrução da ferida (resultante da extração do tumor).
Desta forma, a principal vantagem da Cirurgia Micrográfica de Mohs em relação à cirurgia convencional, relaciona-se com o controlo microscópico das margens do tumor durante a cirurgia, garantindo a remoção de todo o tumor sem qualquer agressão ou extração da pele normal. Na cirurgia convencional o tumor é retirado com margens de segurança e enviado para a anatomia patológica, cujo resultado é fornecido habitualmente entre 1-2 semanas.
Como a remoção do tumor é estabelecida apenas pela visualização do dermatologista, o risco de permanecerem alguns resíduos cancerígenos pode existir e é definitivamente superior relativamente à cirurgia Mohs.
Esta questão da “extensão da margem de segurança da extração” sempre foi muito discutida na cirurgia dermatológica; margens exíguas tendem a deixar restos tumorais, mas facilitam a reconstrução, enquanto margens alargadas tendem a retirar completamente os tumores, mas podem produzir sequelas funcionais ou mesmo estéticas, sendo que as margens cirúrgicas alargadas nem sempre garantem a total extirpação tumoral. Em suma, o conceito de “margem de segurança” baseia-se na suposta predição do crescimento tumoral subclínico, o qual, na realidade, não pode ser antecipado apenas com o auxílio do exame comum.
Para a realização da cirurgia micrográfica de Mohs é necessário que o médico tenha conhecimentos profundos de histologia cutânea – que permitem a análise microscópica da pele durante a cirurgia, garantindo a remoção completa do cancro, mesmo em áreas que não são visualizadas clinicamente – mas igualmente conhecimentos de cirurgia, assim como de técnicas de reconstrução.
A Cirurgia de Mohs também é muito utilizada em colaboração com outras especialidades como a Cirurgia Plástica, Oculoplástica ou Otorrinolaringologia para uma abordagem multidisciplinar em casos complexos
O nome cirurgia micrográfica relaciona-se com o mapeamento e a orientação precisos realizados durante a cirurgia de Mohs, o que permite retirar o tumor e, ao mesmo tempo, o exame, conforme descrito acima. O termo Mohs deve-se ao nome do criador da técnica, Frederic E. Mohs, que a iniciou nos anos 30 do séc. passado.
Contudo, com o desenvolvimento tecnológico na medicina, esta técnica sofreu grande transformação, em especial com a utilização do criostato, aparelho que permite congelar e realizar os cortes da pele, para que seja realizado o exame do tumor durante a cirurgia.
A cirurgia de Mohs é indicada para os carcinomas basocelulares considerados de baixo risco de recidiva, quando o objetivo for preservar a pele sã.
Seja para reduzir o tamanho da cicatriz, como para áreas em que não existe pele em excesso para realizar a reconstrução, como acontece por exemplo, nas regiões auriculares (orelhas), nas pálpebras e na glande.
A CIRURGIA DE MOHS É AINDA INDICADA EM:
Para assegurar a qualidade e a certificação pela técnica Mohs, os cirurgiões realizam estágios através de um programa rigoroso de 1 a 2 anos, após a especialidade.
O Dr. Tiago Mestre é um dos dois cirurgiões portugueses com formação nesta técnica, tendo sido bolsista da British Society of Dermatological Surgery e o único dermatologista no país que integra o prestigiado American College of Mohs Surgery.